Na Ilha da Madeira, 16% da população já aderiu, segundo TV pública; entidade de defesa do consumidor desaconselha investir no negócio, acusado no Brasil de ser pirâmide financeira
Bloqueada no Brasil por suspeita de ser uma pirâmide financeira, e alvo de alerta na República Dominicana e no Peru, a Telexfree tem feito sucesso em Portugal. Eventos ao longo da última semana ocuparam a agenda de hotéis de luxo em Lisboa, Coimbra e Porto. Na Região Autônoma da Madeira, o negócio atraiu aproximadamente 41 mil pessoas, segundo a TV pública RTP Madeira – o que equivale a 16% da população local.
"Já algumas pessoas conhecidas ou amigas falaram que estavam participando desse esquema", diz o integrante de uma agência do governo regional. "Até mandei para uma dessas pessoas por e-mail uma notícia de que uma juíza brasileira havia mandado bloquear [as atividades]."
A popularidade, conquistada com a promessa de lucros expressivos, chamou a atenção também de autoridades. Segundo o iG apurou, a Polícia Judiciária da Madeira começou a reunião documentos sobre a Telexfree. A eventual abertura de um inquérito, entretanto, só ocorrerá quando houver queixas de lesados pelo negócio.
Para Carolina Carolina Gouveia, jurista da Deco Proteste, a Telexfree tem as características de uma pirâmide financeira.
“A lei portuguesa também classifica esse tipo de negócio como práticas comerciais ilegais, porque o que está em causa é um serviço que é proposto ao consumidor, mas o consumidor acaba por se tornar um colaborador da própria empresa, na medida que tem de promover a empresa”, afirma, em entrevista ao iG. “De fato, são práticas que não são permitidas.”
Via Estados Unidos
De acordo com uma fonte ouvida pelo iG, o dinheiro que tem chegado aos divulgadores da Madeira tem origem em diversos países, mas sobretudo, nos Estados Unidos. É lá que está estabelecida a Telexfree, INC., a sede do negócio.
A empresa é administrada pelo americano James Matthew Merrill e o brasileiro Carlos Wanzeler, que no Brasil são acusados pelo Ministério Público do Acre (MP-AC) de terem criado o que pode ser a maior pirâmide financeira da História do País. Também é réu no processo o brasileiro Carlos Roberto Costa.
A Justiça chegou a bloquear provisoriamente as atividades da Ympactus Comercial, braço brasileiro da Telexfree detido por Costa, Wanzeler e Merrill. Mas a medida, ainda em vigor, não tem impedido que residentes no Brasil continuem a se cadastrar, como o iG mostrou.
Thaís Khalil, juiza responsável pelo processo no Acre, recentemente, solicitou dados sobre a Telexfree, INC. A promotora que atua no caso, Alessandra Marques, chegou a declarar que a Telexfree americana também é alvo de investigação nos Estados Unidos. As autoridades americanas, entretanto, não confirmam nem negam a informação.
"Investigação aqui não e mesma coisa que investigacão no Brasil", diz um divulgador da Telexfree nos Estados Unidos, sem saber que conversava com a reportagem. "Aí é coisa ruim. Aqui é coisa boa", tranquiliza.
Cadastros além-mar
Assim como divulgadores americanos, os de Portugal também têm se oferecido para cadastrar residentes do Brasil. Isso é possível porque o interessado não precisa informar o seu endereço verdadeiro no cadastro no site www.telexfree.com. Apenas deve fazê-lo no sistema virtual de pagamentos contratado pela Telexfree para escoar os ganhos aos divulgadores.
“Poderá colocar a sua morada [endereço], mas no [campo] país, seleciona Portugal”, orienta um divulgador de Portugal que se identifica como Filipe, sem saber que falava com a reportagem. “Muda-se depois a morada para o Brasil na E-wallet [o sistema de pagamento contratado pela Telexfree] e recebe o cartão na sua casa aí no Brasil!“
A Polícia Judiciária e a Procuradoria Geral da República de Portugal não comentaram o caso da Telexfree. A empresa não se manifestou.
IG
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