segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Michael Jackson morreu virgem

Michael Jackson morreu virgem
 Foram muitas bizarrices na vida de Michael Jackson para caber apenas num parágrafo, mas a gente pode se ater às principais: nascido em 1958, ídolo já na infância com o grupo Jackson 5, ele sofreu bullying do próprio pai, fez tratamento de pele para se tornar branco, operou tantas vezes o nariz que teve que usar próteses para tapar o buraco deixado em seu rosto, construiu um rancho para receber crianças, batizou esse rancho de Terra do Nunca, foi acusado de pedofilia, teve casamentos e namoros armados para afastar os boatos de que seria gay e acabou morrendo de maneira tão polêmica e misteriosa quanto foram esses vários fatos de sua vida.

Porém, para o jornalista americano Randall Sullivan, autor de “Intocável: a estranha vida e a trágica morte de Michael Jackson”, biografia que acaba de ser lançada no Brasil pela Companhia das Letras, Michael Jackson era uma pessoa normal.

— É claro que ele viveu numa realidade alternativa desde os 6 anos. Mas eu acho que ele era o oposto de muitos políticos que nós conhecemos, aqueles que agem com normalidade aos olhares externos, mas são estranhos privadamente. Michael parecia estranho, mas era bem mais normal em seus sentimentos do que aparentava — diz Sullivan. — Deve-se debater o quanto de sua imagem foi construída por ele e o quanto foi imposta por circunstâncias externas. Irmãs ameaçaram processo


Colaborador e editor da revista “Rolling Stone” por mais de 20 anos, Sullivan começou a escrever “Intocável” logo depois da morte de Jackson, em 25 de junho de 2009. A ideia original era fazer um longo artigo para a revista, mas muitas perguntas foram aparecendo na frente de Sullivan, perguntas que não poderiam ser respondidas com simplicidade:

— Havia muitas contradições, muitos Michaels para dissecar. Então o livro nasceu meio que naturalmente, desse desejo de esclarecer minhas próprias curiosidades, mais sobre sua personalidade do que sobre o artista. Por exemplo, a grande pergunta, a mais nebulosa e que estava no centro de tudo para mim, é se ele foi mesmo pedófilo e abusou de crianças.

Como mostra o livro, Michael Jackson enfrentou duas acusações na Justiça de cometer abusos sexuais contra crianças, a primeira em 1993, e a segunda em 2005. Em ambos os casos, ele foi inocentado por falta de provas, mas chegou a pagar uma quantia em dinheiro na década de 1990 para que o dentista Evan Chandler retirasse a acusação de que Michael teria molestado seu filho. Talvez por coincidência, talvez não, Chandler cometeu suicídio cinco meses depois da morte de Jackson.

A conclusão a que Sullivan chega, portanto, é que o “intocável” artista era na verdade intocado. O autor diz não ter encontrado provas de que Michael tenha se relacionado sexualmente com crianças, homens ou mulheres. O astro teria morrido virgem.

— Não achei nada que me levasse a acreditar que ele teve relações sexuais. Isso não quer dizer que ele não tenha tido algum contato sexual com alguém, mas uma relação mesmo, eu acredito que ele não teve — afirma Sullivan. — Eu também acredito no que ele dizia sobre estar perto das crianças, que aquilo lhe permitia experimentar a infância perdida. Sei que são impulsos semelhantes aos que formam a psicologia de um pedófilo, mas não há como ser conclusivo sobre uma suposta pedofilia de Michael. Quando mil crianças testemunham dizendo que nada aconteceu, e apenas três dizem que aconteceu, me parece que há uma motivação financeira para as famílias dessas três.

Mesmo com esse retrato positivo de seu biografado, Sullivan não deixou de enfrentar a ira dos fãs. Na internet, algumas centenas deles já haviam escrito comentários acerca do livro antes mesmo de “Intocável” ser lançado, alegando inverdades e um suposto tom sensacionalista.

Também a família de MJ se rebelou contra a biografia. Assim que um trecho foi publicado numa revista, os advogados de La Toya e Janet, irmãs do cantor, enviaram cartas ameaçando processar Sullivan.

— O que peço aos fãs é que leiam o livro antes de falar qualquer coisa. Alguns fizeram uma campanha organizada contra mim, o que poderia ter sido péssimo para a divulgação do livro, mas no fim acabou ajudando a vender mais exemplares — diz o autor. — Já as ameaças das irmãs não me incomodaram. Tenho tudo documentado, tudo o que está no livro é público. No caso de La Toya, ela queria negar o que estava gravado num vídeo (em 1993, a cantora disse, sobre Michael Jackson, que não seria “uma cúmplice silenciosa de seus crimes contra as criancinhas”). Se ela quisesse brigar, o vídeo ia acabar circulando, e acho que ela não queria isso.


O Globo 

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