domingo, 8 de setembro de 2013

Ataque militar à Síria colocaria EUA e Al-Qaeda do mesmo lado em conflito

Ação americana poderia provocar fragmentação da Síria, instabilidade no Líbano e piora nas relações entre Irã e EUA

 O presidente americano Barack Obama aguarda a aprovação do Congresso para iniciar uma ação militar na Síria, em retaliação a um suposto ataque químico lançado pelo líder Bashar al-Assad . Se a intervenção for aprovada, ironicamente EUA e a Al-Qaeda, seu pior inimigo, passarão a lutar por um objetivo comum, pois entre os rebeldes sírios anti-governo há grupos vinculados à rede terrorista.
“Os EUA e Al-Qaeda não serão aliados formalmente, no sentido de que fizeram uma aliança. Serão 'aliados' entre aspas, por força das circunstâncias: terão os seus interesses alinhados por uma causa comum”, explicou Bernardo Wahl, professor na pós-graduação da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP).
“Mas esse alinhamento temporário de interesses entre Washington e a Al-Qaeda não será assumido por nenhuma das partes, pois tornar isso público não interessa a nenhuma delas”, completou.
Se decidir por uma intervenção no conflito interno sírio, o grande desafio dos EUA será justamente não fortalecer nenhum grupo que atue de forma contrária a seus interesses. Portanto, os americanos deverão descartar a estratégia de fortalecer a resistência a Assad, acredita Marcus Vinicius de Freitas, coordenador do curso de Relações Internacionais da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap). “Não se pode negar que Osama bin Laden foi um dos membros do grupo de resistência aos soviéticos no Afeganistão, devidamente apoiado pelos EUA”, lembrou.
Segundo Freitas, o mais provável é que os EUA optem por enfraquecer o regime sírio com ataques pontuais a instalações militares, para reduzir seu poder de fogo. Ao mesmo tempo, devem procurar logo uma formatação de poder que seja aceita pela população e que tenha interesses alinhados aos seus. Formar um novo governo será o próximo desafio, caso a intervenção contra Assad seja bem-sucedida.
Autoritário, o regime sírio conseguiu colocar ordem no país, composto por uma série de grupos étnicos e religiosos. O cenário pós-Assad é incerto e cheio de perigos, avaliou Wahl: “A queda de Assad poderia descongelar conflitos até agora congelados pela ordem imposta pelo governo. Uma Síria pós-Assad, caso não haja todo um complexo processo de negociações, pode resultar em mais guerra civil, desta vez entre os grupos que disputam o poder, considerando que os chamados rebeldes são compostos por uma série de grupos.”
 IG.

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