Especialistas: destruir armas químicas não vai encerrar conflito
Estados Unidos e Rússia realizam nesta sexta-feira (13), em Genebra, o segundo dia de negociações para desmantelar o arsenal químico da Síria e evitar um ataque estrangeiro ao país árabe. Ontem, no primeiro dia de encontro, as duas potências militares divergiram quanto à necessidade de força militar, mas mostraram confiança em alcançar um acordo político.
Apesar do aparente avanço dos últimos dias na frente diplomática, o secretário norte-americano de Estado, John Kerry, disse que a opção militar não foi descartada para punir o governo sírio pelo suposto uso de armas químicas contra civis.
Kerry reiterou a posição dos Estados Unidos de que a força militar possa ser necessária se falharem os esforços diplomáticos para controlar o estoque de armas químicas do presidente sírio Bashar al Assad.
"O presidente [Barack] Obama deixou claro que, se a diplomacia falhar, a força poderá ser necessária para deter e desmantelar a capacidade de Assad de usar essas armas", disse Kerry ao lado de Lavrov, na única coletiva do dia, realizada antes da reunião bilateral.
Lavrov, no entanto, deixou claro que a Rússia quer que os EUA deixem de ameaçar a Síria militarmente no momento.
Horas antes, Assad se comprometeu, em entrevista a uma televisão russa, a entregar seu arsenal químico e a assinar a Convenção contra as Armas Químicas, mas apenas se Washington parar de ameaçar seu governo e de fornecer armas aos rebeldes.
— Quando virmos que os Estados Unidos realmente querem estabilidade na nossa região e [quando] deixarem de ameaçar e tentar invadir, e também deixarem de fornecer armas aos terroristas, então poderemos acreditar que podemos continuar com o processo.
Durante a coletiva na capital suíça, Kerry aproveitou para mandar uma mensagem ao líder sírio.
— Consideramos que as palavras do regime sírio, sinceramente, não são suficientes. Por isso, viemos aqui para trabalhar com os russos. As expectativas são grandes (...) Juntos, vamos testar a capacidade do regime de cumprir suas promessas. Estamos decididos a ter um encontro substancial.
A proposta russa já levou o governo dos EUA a uma pausa nos seus planos para atacar a Síria, que nega ter usado armas químicas contra seus civis em um ataque ocorrido em 21 de agosto nos subúrbios de Damasco, matando mais de 1.400 pessoas.
A ONU (Organização das Nações Unidas) afirmou ter recebido nesta quinta-feira (12) um documento da Síria sobre sua adesão à convenção global contra armas químicas, em vigor desde 1997. Assad havia prometido fazer isso como parte do acordo para evitar um ataque norte-americano.
A Síria era um dos únicos sete países que não aderiram à convenção que proíbe a fabricação, posse e transferência de armas químicas. Os outros seis países são Egito, Israel, Coreia do Norte, Angola, Sudão do Sul e Mianmar.
A Rússia é a principal aliada internacional de Assad em dois anos e meio de uma guerra civil que já matou mais de 100 mil pessoas. Com a colaboração da China, os russos já vetaram três propostas ocidentais de resolução do Conselho de Segurança da ONU contra o governo sírio.
A Síria concordou com a proposta russa para entregar seus estoques de armas químicas, evitando o que poderia ter sido a primeira intervenção ocidental direta na guerra civil do país.
"Legalmente falando, a Síria se tornou a partir de hoje um membro pleno da convenção", disse o embaixador sírio na ONU, Bashar Ja'afari, a jornalistas em Nova York, após apresentar documentos relevantes à organização.
Porém, vários diplomatas e um funcionário da ONU disseram à Reuters sob anonimato que ainda não está claro se a Síria cumpriu todas as condições para a adesão legal ao tratado.
R7
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