Com criatividade, cineasta paraibano dribla limitações no orçamento das suas produções, fabricando os próprios equipamentos.
Tiago GermanoFotos: Adom Vieira/DivulgaçãoEm fase de montagem, A Ilha é o novo curta do cineasta Ismael Moura, de 35 anos, que estreia em janeiro.
“Ele é uma espécie de MacGyver do cinema paraibano”, descreve o mestre Torquato Joel. Se o personagem do seriado de aventura dos anos 1980 era capaz de produzir uma bomba com uma goma de mascar, Ismael Moura, morador de Cuité (no Curimataú paraibano, a 235 quilômetros de João Pessoa), improvisa steadicams com alumínio comprado em ferro velho e slidecams com peças inutilizadas de automóveis.
“É impressionante o que você pode fazer com um cano de PVC”, afirma o cineasta de 35 anos, que está finalizando o curta-metragem A Ilha, gravado no mês passado, em Cuité, com o ator Fernando Teixeira no elenco. “Se não tenho dinheiro pra comprar, eu gosto de inventar. Todo o curta foi filmado com uma grua que eu mesmo fiz. Equipamentos que custam R$ 3.000, R$ 4.000, eu mesmo faço por R$ 200, R$ 300."
A Ilha está em processo de montagem e estreia em janeiro, com exibição na cidade de pouco mais de 20 mil habitantes que ainda não possui uma única sala de projeção. "Minha grande paixão é o cinema, mas, como eu não tinha acesso à sétima arte, tive que começar pelo teatro", conta Ismael, que é autor das dez peças de repertório da Cia. Cuiteense de Teatro.
Hoje, parte dos atores da companhia trabalha nos curtas do amigo, produzidos pelo Ponto de Cultura 'Portadores de Eficiência', que funciona em Cuité. O terror intitulado Meio Amargo (Brasil, 2013), que pode ser visto no YouTube, foi feito em um único dia: “Eu escrevi o roteiro de manhã, entrei em contato com os atores depois do almoço e filmamos tudo à noite”.
O ingresso no audiovisual se deu em 2006, quando conheceu Torquato Joel no júri da primeira edição do 'Revelando os Brasis', do Ministério da Cultura (MinC). Reencontro, ficção de 12 minutos que Ismael dirigiu, foi escolhido o melhor curta-metragem produzido durante o projeto.
Depois de uma pausa de cinco anos longe das câmeras, Ismael participou de dois outros projetos coordenados por Joel: o Viação Paraíba, em 2011, e as duas primeiras edições do Laboratório Paraibano para Jovens Roteiristas (Jabre), em 2011 e 2012.
Degradação das Almas (2011), feito durante o Viação Paraíba, participou do 3º Cine Congo por acaso, porque um amigo inscreveu o filme na mostra competitiva. Já Sã Consciência (2012) foi escolhido o melhor roteiro do 2º Jabre e está para ser filmado.
Entre as idas e vindas de Torquato pelo Curimataú, Ismael foi apresentado ao ator Fernando Teixeira. “Nós três fomos conhecer a cachoeira e a casa onde eu pretendia filmar A Ilha e Fernando Teixeira gostou tanto do roteiro que falou para eu não me preocupar com dinheiro, ele queria o papel para ele”, comemora o cineasta.
ROTEIRO ANGUSTIANTE
“O roteiro era um negócio angustiante”, lembra Fernando Teixeira, que ficou fascinado com a história do protagonista, um velho sem nome que tem um filho autista e vive em um casarão destruído. “Ele, o velho, foi abandonado pela mulher, cuidou sozinho do menino até os dezessete anos e agora está em crise”, explica.
O veterano contracena com o novato Walisson Pereira, que interpreta o filho autista e foi recrutado entre os atores de Cuité.
“Eu exigi que o outro ator fosse daqui porque queria valorizar os talentos da cidade”, declara Ismael. “Fizemos um teste e ficamos abismados, porque o Walisson trouxe o personagem já pronto, pesquisando na internet a maneira como os autistas se comportam”.
Hidrófobo, o adolescente é trancafiado pelo pai dentro de um quarto alagado e amarrado em cima da cama, para não fugir enquanto o velho sai de casa. “A ideia é maravilhosa e a filmagem foi ótima. Gostei muito do resultado”, garante Teixeira.
Em Janeiro, A Ilha deve estrear também em João Pessoa, em uma mostra que Torquato Joel está organizando com curtas-metragens vencedores do Jabre, como Fogo-Pagou (2011), de Ramon Batista.
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