Soropositivos passarão a receber medicamentos antirretrovirais assim que a doença tiver sido diagnosticada.
Em junho, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendou que os países oferecessem tratamento a pacientes com Aids a partir do momento em que o sistema imunológico apresentasse este patamar.Até agora, o país vinha oferecendo tratamento antirretroviral pela sua rede pública apenas quando a contagem das células de defesa (CD4) do paciente caía para abaixo do patamar de 500 células por milímetro cúbico de sangue.
O Brasil já vinha oferecendo tratamento neste nível desde agosto do ano passado.
'Liderança'
Na prática, o Brasil será o terceiro país do mundo a deixar de condicionar o tratamento gratuito ao número de células de defesa do paciente.
Programas semelhantes de tratamento independentemente do estágio da doença existem também na França e nos Estados Unidos, segundo o Unaids.
"O Brasil vai além da recomendação atual da Organização Mundial da Saúde", disse à BBC Brasil Georgiana Braga-Orillard, coordenadora do Unaids, no Brasil. "Novamente o Brasil prova sua liderança na luta contra a Aids", diz ela.
"Muitas pessoas fazem o teste, são diagnosticadas soropositivas e não voltam para fazer o tratamento. Quando retornam à rede de saúde, já estão com o número de CD4 muito baixo e começam o tratamento muito tarde. Isso deixa sequelas", diz Braga-Orillard.
"O tratamento antirretroviral em um estágio mais precoce da doença permite que as pessoas vivam por mais tempo e em melhor saúde, e reduz substancialmente os riscos de transmissão do vírus", afirma a OMS.
"Estudos demonstraram que o tratamento antirretroviral precoce pode reduzir o risco de transmissão do vírus em 96%" afirma o Unaids.
Protocolo
De acordo com o Ministério da Saúde, mais de 100 mil pessoas deverão ser beneficiadas com a expansão da oferta de tratamento. Atualmente, 313 mil recebem remédios.
Em outubro, o governo brasileiro submeteu a consulta pública o protocolo clínico que prevê o tratamento Aids logo após o diagnóstico da doença, qualquer que seja o nível de células de defesa do organismo.
Os detalhes do protocolo clínico serão concluídos até o final do ano, mas o Ministério da Saúde já anunciou que o tratamento precoce será oferecido em qualquer nível da doença.
Segundo a coordenadora do Unaids, ainda não é possível estimar o custo da ampliação do programa de tratamento da Aids no Brasil. Atualmente, R$ 770 milhões são destinados aos medicamentos contra a Aids, do total de R$ 1,2 bilhão do orçamento para lutar contra a doença.
Existem no Brasil, segundo estimativas do Unaids e do ministério da Saúde, entre 490 mil e 530 mil pessoas infectadas pelo vírus HIV, sendo que cerca de 135 mil delas não sabem que têm a doença ou nunca fizeram o teste.
Por ano, é registrada uma média de 36 mil novos casos, sendo que praticamente a metade deles se refere a homens jovens homossexuais.
De acordo com o ministério da Saúde, a taxa de prevalência de portadores de HIV no Brasil é de 0,4% da população geral. Entre os homens homossexuais, esse número sobe para 10,5%.
A taxa de prevalência chega a 15% da população geral no caso de jovens homossexuais com idade entre 15 e 27 anos no Estado de São Paulo.
O novo protocolo clínico anunciado pelo Brasil também prevê simplificar o coquetel de triterapia com um "medicamento três em um". O tratamento em um único comprimido, que já existe na França, deverá estar disponível no Brasil em 2014.
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