Diante da possibilidade de exumação do corpo de João Goulart, a prefeitura de São Borja, na Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul, reforçou nesta terça-feira (14) a segurança no Cemitério Jardim da Paz, onde o ex-presidente está enterrado há 36 anos. A vigilância no cemitério, que antes era prestada apenas durante a noite, agora ocorre 24 horas por dia. O vigia de uma empresa terceirizada prioriza a guarda junto ao túmulo do ex-presidente.
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Segundo o comandante do Comando Regional de Policiamento Ostensivo (CRPO), coronel Iguaraçu Ricardo da Silva, a Brigada Militar ainda não recebeu nenhuma solicitação oficial da prefeitura do município para intensificar a segurança no local.
Por telefone, o coronel Iguaraçu disse que após o encaminhamento do Executivo poderá determinar uma atenção maior do policiamento nas proximidades do cemitério, mas afastou a possibilidade de destinar PMs para fazer a segurança junto ao túmulo do ex-presidente.
A possibilidade surgiu após a negativa do Exército ao pedido do prefeito Farelo Almeida, para que sepultura de Jango fosse vigiada para evitar violações. O comandante da 3ª Divisão do Exército, general Geraldo Antônio Miotto, alegou que a área não é jurisdição das Forças Armadas.
Entenda o caso
No início de maio, a Comissão Nacional da Verdade (CNV) e o Ministério Público Federal anunciaram a decisão de exumar o corpo de Jango, que morreu no exílio, na Argentina, em 1976. A CNV quer reunir uma força-tarefa de peritos internacionais para analisar a causa da morte do ex-presidente. O procedimento ainda depende de autorização da Justiça, o que deve ocorrer em três meses.
O advogado da família e neto do ex-presidente, Christopher Goulart, comemorou a decisão. Segundo ele, o procedimento pode significar a comprovação de uma “versão oficial mentirosa” e acabar com uma dúvida histórica levantada sobre a morte de Jango, além de abrir caminho para elucidar outras suspeitas sobre o período da ditatura militar no Brasil.
A família de João Goulart já havia manifestado o desejo de exumação do corpo do ex-presidente durante audiência pública da Comissão da Verdade em março deste ano, em Porto Alegre. Na ocasião, o governador Tarso Genro lembrou sua atuação como ministro da Justiça e falou sobre a solicitação feita à Polícia Federal, em 2010, de um inquérito para investigar a morte de Jango. A ministra da Secretaria dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, também defendeu a investigação no MPF, onde o processo tramita desde 2007.
A exumação deve apurar a suspeita de que Jango tenha sido assassinado por envenenamento, durante exílio na Argentina, o que contraria a versão oficial de que ele foi vítima de um ataque cardíaco. Uma cápsula teria sido colocada no frasco de medicamentos que Jango tomava regularmente para combater problemas no coração.
O plano para a morte do ex-presidente teria sido executado por agentes da ditadura uruguaia durante a Operação Condor (uma aliança entre as ditaduras militares da América do Sul nos anos 1970 para perseguir opositores dos regimes), a pedido do governo militar brasileiro. Os militares suspeitavam que João Goulart estivesse planejando sua volta ao Brasil por ter recuperado seus direitos políticos.
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