De acordo com a pró-reitora da UFPE, Ana Cabral, as mudanças devem ser anunciadas em breve, já que provocam impacto na vida de milhares de estudantes que já estão se preparando para os vestibulares tradicionais. "Vamos levar esse debate para a reunião do Conselho Universitário. Não temos uma data ainda, mas a gente tem que fazer isso logo, no mês de abril, porque as escolas precisam saber disso", afirma a pró-reitora. Para ela, as últimas polêmicas envolvendo a correção das redações – estudantes receberam boa nota mesmo fazendo "deboche" com receita de macarrão e hino do Palmeiras – não devem afetar a decisão dos conselheiros.
"Quando surgiu a possibilidade do Enem como processo de vestibular, as pessoas ficaram um tanto cautelosas, porque era uma coisa nova, mas agora está no quinto ano, sofreu aperfeiçoamento. Na última edição, não teve nenhum problema", justifica. Atualmente, a UFPE utiliza o Enem como primeira fase do vestibular, mas para Ana Cabral a universidade já está pronta para aderir completamente ao Sisu. "Claro que eu não posso garantir que isso vai acontecer este ano porque não sou eu quem decide, isso é atribuição do conselho", garante.
Embora o Enem ainda enfrente resistências na UFPA, o pró-reitor de graduação, Mauro Miranda, diz que a discussão deve ser levada ao conselho universitário no primeiro semestre deste ano. Atualmente a universidade usa o Enem como primeira fase, o que, segundo Magalhães, "funciona bem". "Gostamos desse modelo porque na segunda fase podemos fazer uma prova cobrando conteúdos mais regionais, como a geografia da região amazônica, escritores locais, coisas que o Enem, por ser um exame nacional, não aborda", afirma.
Em nota, a UFRGS disse que o seu vestibular é "tradicional e consolidado", mas que também trabalha em mudanças. "A UFRGS sempre está aberta ao debate sobre opções de ingresso na graduação. (...) O vestibular de 2014 poderá ter mudanças relacionadas ao Enem, mas esse tema ainda não foi colocado em discussão", informou.
Tendência é acabar com o vestibular em pouco tempo Última universidade federal a aderir à seleção por meio do Enem, a UFMG precisou enfrentar resistências de escolas, estudantes e professores, mas conseguiu aprovar o fim do vestibular em uma votação no conselho universitário que contou com 40 votos favoráveis e apenas dois contrários. Reitor da universidade, Clélio Campolina diz que essa é uma tendência que deve se confirmar em todas as instituições federais em um curto período de tempo. "Conversei com reitores de várias universidades que já usam o Enem, a UFRJ, a Unifesp, a UFSCar, e também com reitores que têm suas seleções próprias. A UFRGS, a UFBA, a UFPA estão discutindo isso. Então eu não vi nenhum reitor reclamando, querendo sair, mas vários querendo entrar", disse Campolina.
Ele ainda cita o caráter democrático do Enem. "Todos os países desenvolvidos têm um exame nacional. Nós achamos isso um grande avanço, uniformiza prova, da oportunidade para todos os candidatos, tem efeito sobre educação pública", defende o reitor. Ele diz também que abrir mão da estrutura já montada pela maioria das universidades para a preparação dos vestibulares não é um problema. "No nosso caso, a comissão vai continuar trabalhando porque cursos com habilidades específicas vão precisar manter provas de técnica, mas muitas funções serão desativadas e essas pessoas serão deslocadas para outras áreas. Não é um problema."
Segundo o ex-presidente do Inep e professor da Universidade de São Paulo (USP) Reynaldo Fernandes, para muitas universidades é até um "alívio" abrir mão do peso de elaborar um vestibular próprio. Para ele, a maior resistência ao Enem não está nas mudanças em sua estrutura interna, e sim na confiança na prova nacional. "Acho que a adoção do Enem é uma tendência, o exame está se estabilizando, ganhando confiança, mas é evidente que é uma prova muito grande que gera problemas", diz ao citar as falhas na logística nas edições de 2010 e 2011, como o furto de cadernos e vazamento de questões do pré-teste.
O especialista, que foi um dos idealizadores do Enem, aponta que um dos principais benefícios do Enem – e que precisa ser mais discutido – é a mudança no ensino médio, abordando conteúdos de forma interdisciplinar e sem as "decorebas" do vestibular, opinião compartilhada pelo pró-reitor da UFBA. "Hoje a UFBA define como vai ser o ensino médio nas escolas da Bahia. Em cada Estado ocorre a mesma coisa. Mas se tivermos uma sinalização conjunta do que deve ser ensinado no ensino médio, como propõe o Enem, daremos um passo à frente para melhorar a educação no Brasil", afirma Ricardo Miranda.
As polêmicas que permeiam Enem desde que ele se tornou um exame nacional, observa o professor da USP, impedem que se discuta o conteúdo cobrado. "Quem ditava o ensino médio no Brasil era o vestibular, e o Enem surge para mudar isso. Só que são tantas polêmicas, muitas delas tratadas de forma exagerada (pela mídia), que até hoje só vi se discutir a logística do exame, ninguém até hoje propôs um diálogo sobre a função da prova", critica.
Terra
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