Para especialistas, além da oferta é preciso garantir que unidades tenham estrutura e projeto pedagógico
“As salas de educação na pré-escola não podem ser depósitos de criança. Muitas vezes a escola não tem estrutura, não tem brinquedo pedagógico, não tem um acompanhamento com qualidade”, afirma Silvia.
Incluir não basta
“Com isso, a gente vê que não é suficiente a presença das crianças na sala, mas que para ter impacto é preciso de qualidade”, afirma Alejandra Meraz Velasco, gerente da área técnica do Todos Pela Educação.
Enquanto o Nordeste tem 87,5% das crianças matriculadas na pré-escola, na outra ponta a região Norte registra índice de apenas 70%. O Centro-Oeste tem 73,9%, o Sul, 75,4% e o Sudeste. 85%.
Desigualdade de acesso
O levantamento também mapeou a desigualdade por renda. No Centro-Oeste - que tem a maior distância entre taxas - enquanto 96% das crianças das famílias mais ricas frequentavam a pré-escola, apenas 62,5% dos mais pobres estavam matriculadas nas instituições de ensino. "Isso mostra que, independentemente da região, aqueles que têm oportunidades colocam o filho na escola mais cedo", diz Alejandra.
O acesso das crianças na zona rural também é menor. Enquanto cerca de 84% das crianças que vivem nas regiões urbanas vão para pré-escola, na zona rural o índice cai para 73,2%.
Para a professora de Educação da UFMG Mônica Correa Baptista, a diferença tem duas explicações: a dificuldade da oferta do e a falta de um plano pedagógico que atenda as particularidades da zona rural. "Muitas vezes, são comunidades pequenas, que não têm escolas e que muitas vezes não têm estrutura para o transporte das crianças. (...) Além disso, o ensino no campo tem que pensar nas especificidades do campo. Não dá para pensar na mesma lógica da cidade", diz.
Desafios
Diante desse cenário, cada município precisa descobrir qual será o seu desafio, explica Alejandra. "Para alguns, será a questão de encontrar locais para abrir unidades de pré-escola, para outros será encontrar professores para atender a demanda", diz.
Isso além da necessidade da crianção de uma base curricular comum, já que o ensino da pré-escola se tornou obrigatório. "É preciso uma base que estabeleça o que todas as crianças têm que aprender para que, de fato, a educação contribua em uma fase tão crucial, que o Brasil ainda patina", avalia Alejandra.
Mônica, da UFMG, chama a atenção para o problema do financiamento. "Creches e pré-escolas fazem parte do Fundeb, mas não há um dispositivo que obrigue que um montante seja investido na educação infantil”. Sem essa obrigatoriedade, diz ela, as escolas de educação infantil ainda são as mais precárias, com mais improvisações. "Os materiais e espaços precisam ser apropriados para essas crianças, não pode ter a mesma estrutura de uma escola para os mais velhos.”
Por fim, diz Mônica, o tempo de aula na pré-escola também deveria ser maior. "Acho quatro horas e meia muito pouco. Teria de ser seis horas."
IG.
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